10 anos do Acordo de Paris e o caminho até a COP30: reflexões sobre uma nova década de transição
- Mariana Schuchovski
- 18 de jun.
- 4 min de leitura
Entre os dias 24 e 26 de abril estive em Paris em um ambiente repleto de ideias e iniciativas que refletem a urgência das crises globais. O ChangeNOW 2025 aconteceu no mesmo ano em que celebramos 10 anos do Acordo de Paris (2015). Esse marco simboliza uma oportunidade crucial para avaliar nossos avanços e traçar uma rota clara até a COP30 que vai acontecer em Belém no final de 2025.
Ao caminhar pelos espaços de debate e inovação, o destaque não foi apenas a tecnologia, mas o movimento coletivo: soluções em biodiversidade, mobilidade limpa, energia renovável, agroecologia, resíduos, saúde planetária, educação e inteligência climática. Essas propostas mostram que já temos os trilhos para uma transição efetiva. O desafio agora é expandir o impacto, incorporando essas ideias em políticas públicas, governança corporativa e investimentos robustos.
Paris, 10 anos depois: o que aprendemos (ou ainda não)?
O ChangeNOW 2025, ao ocupar o Grand Palais uma década após o Acordo de Paris, simboliza essa encruzilhada: estamos celebrando marcos ou construindo respostas?
Desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, as promessas foram muitas, mas os avanços seguem aquém do necessário. De acordo com o Relatório Síntese do Sexto Ciclo do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), o mundo já aqueceu cerca de 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais, e estamos a caminho de ultrapassar 1,5°C entre 2030 e 2035, caso não haja uma redução drástica de 43% nas emissões globais até 2030.
Enquanto isso, a lacuna entre as promessas e a realidade segue alarmante: o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente sobre a Lacuna de Emissões (2023) estima que, com as políticas atuais, estamos no rumo de um aumento de 2,5°C a 2,9°C até o final do século, o que representa um cenário incompatível com um futuro seguro para a humanidade.
As mais de mil soluções apresentadas no evento, em temas como biodiversidade, mobilidade limpa, energia renovável, agroecologia, resíduos, educação, saúde planetária e inteligência climática, mostram que os caminhos existem. O que falta, na maioria das vezes, é mais ambição política, maior escala, assim como governança e financiamento estruturados.
Mais do que celebrar, é preciso transformar promessas em ações concretas.
O Brasil e sua responsabilidade de ocupar o centro da solução
Esse debate é especialmente relevante para o Brasil. Somos uma potência socioambiental, um país com 20% da biodiversidade mundial, segundo a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), e com grande parte das soluções naturais para o clima e os ecossistemas do planeta.
Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos países mais expostos aos riscos climáticos. Eventos extremos vêm se tornando mais frequentes: secas prolongadas na Amazônia, chuvas torrenciais no Sul e Sudeste, colapsos hídricos e impactos sobre a produção agrícola. Apenas em 2023, segundo o Escritório da ONU para a Redução de Riscos de Desastres, o Brasil registrou 12 eventos climáticos extremos de alta severidade, afetando diretamente mais de 2 milhões de pessoas.
Com a chegada da COP30 em 2025, em Belém, o Brasil ocupa agora um papel geopolítico decisivo. O país tem a chance de exercer protagonismo com legitimidade, apresentando um plano nacional consistente de descarbonização, proteção da biodiversidade e justiça climática, com forte participação de comunidades indígenas e tradicionais (as verdadeiras guardiãs da floresta).
Mais do que uma oportunidade, trata-se de uma responsabilidade histórica. O mundo espera do Brasil uma liderança não apenas ambiental, mas também diplomática, política e econômica para uma nova rota de desenvolvimento.
Da vitrine à implementação: o papel do ESG estratégico
Uma das mensagens mais potentes do ChangeNOW foi clara: ESG não é reputação nem tendência; é reinvenção; um imperativo de negócios.
Os painéis e cases mostraram que a agenda ESG já ultrapassou o estágio de “boa prática” e está cada vez mais relacionada à resiliência de negócios, à competitividade em mercados globais e à capacidade de adaptação diante de crises sistêmicas, como as relacionadas ao clima, à biodiversidade e às desigualdades sociais.
Segundo o Relatório de Riscos 2025 do Fórum Econômico Mundial, dos 10 maiores riscos da próxima década, em termos de severidade, cinco estão relacionados ao meio ambiente. E o relatório anterior, de 2024 foi enfático: a inação climática e a perda da natureza são os maiores riscos para o sistema econômico global.
É nessa perspectiva que se inserem práticas como metas baseadas na ciência (Science Based Targets da SBTI), estratégias Nature Positive e investimentos com governança financeira robusta, como o uso de blockchain para rastreabilidade em finanças climáticas.
Empresas que adotam essas abordagens não só elevam sua capacidade de atrair capital e reduzir riscos, mas também demonstram alinhamento com o futuro das políticas ambientais globais, incluindo demandas de investidores institucionais e consumidores conscientes.
Uma década para não desperdiçar
Se 2015 foi o ano em que o mundo disse “sim” ao clima, 2025 é o ano de decidir se cumpriremos essa promessa. E Paris, mais uma vez, foi o cenário do chamado à ação.
A COP30 no Brasil representa uma chance decisiva: consolidar metas climáticas, restaurar confiança global e posicionar o País como referência em desenvolvimento sustentável.
Chegou o momento de sair da vitrine e protagonizar uma nova estratégia: transformar ambição em ação, conhecimento em resultados e liderança em legado.

Mariana Schuchovski é Doutora em Ciências Florestais, Especialista em sustentabilidade, ESG e mudanças climáticas, com atuação internacional em biodiversidade, saúde planetária e governança ambiental. Professora, consultora e palestrante, colabora com empresas e governos no desenvolvimento de soluções inovadoras e práticas sistêmicas para a promoção da sustentabilidade.
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